Guia da Gazeta do Povo mostra como é o ambiente do turfe, que ressurgiu como esporte em Curitiba. O Grande Prêmio PR é dia 24 de setembro

Reportagem exibida no Jornal Gazeta do Povo em 24/08/17  – por SANDRO MOSER – 24/08/2017 – 17:21: Fotos: Hugo Harada.

“Atenção! Foi dada a partida…”. Esta é a frase que, em geral, abre as narrações ao vivo das corridas de cavalos e serve para celebrar um momento de renascimento do turfe. No Brasil e em Curitiba, as corridas de cavalos parecem retomar o fôlego.

O Jockey Club do Paraná, segundo hipódromo mais antigo do país, chegou a ficar fechado por um período de pouco mais de um ano, até o início de 2016, quando uma nova diretoria sanou os problemas que o interditaram e reativou as reuniões para alegria dos apostadores e aficionados do turfe.

“Foi um processo um pouco conturbado, com o Jockey em crise. Foi uma luta, mas hoje a administração do clube foi organizada e o clube está com vida nova. Nosso negócio é cavalo de corrida e estamos trabalhando para que eles voltem a ser a atração principal”, disse Paulo Pelanda, atual presidente do Jockey Club do Paraná.

Poucos passeios são tão divertidos e elegantes como um dia (ou noite) de corridas no Hipódromo do Tarumã, que por si só é um atrativo em sua arquitetura modernista assinada por Edmir Silveira D’Avila.

No cenário atual do hipódromo, além das arquibancadas, da pista oval de 3.600 metros e das cocheiras, vê-se a construção do Shopping Jockey Plaza que tem previsão de abertura em 2018.

No projeto do shopping, há um bar com vista para pista de onde será possível apostar nos páreos.

O público do turfe é “sênior”, em geral. Mas há exceções como o músico Irineu Almeida. Filho de Ivo Nogueira, um jóquei histórico do turfe paranaense, famoso pelo destemor. Almeida diz que o turfe está em “seu sangue”.“Eu nasci aqui dentro, cresci no meio das cocheiras. Não tenho mais tanto contato como já tive, mas às vezes eu sonho que estou montando. Se eu não veio de vez em quando, fico doente”.

irineu

Irineu Almeida: o turfe no sangue.

Para ele, o esporte apaixona porque é emocionante em todas as pontas. “Seja para o criador, para competidores ou os apostadores e o público em geral”, explica.

Cavalo paranaense ganhou o maior premio da história do turfe

A lógica do esporte é fácil. Depois que a porteira de largada se abre, jóqueis e cavalos disparam na pista e quem chega primeiro é o vencedor. Porém, entre a largada e o disco final, há toda uma indústria (milionária, aliás) de criação de animais em busca do cavalo de corrida perfeito.

Os puro-sangue ingleses (a raça predominante no turfe profissional) são capazes de correr mais de 60 quilômetros por hora e podem valer até milhões de dólares. O Paraná, em especial a região metropolitana de Curitiba, é região tradicional de criadores de cavalos de corrida.

Os equinos são verdadeiros atletas e passam por processo de doma rigoroso e tem cuidados constantes com alimentação e treinamento para que, por volta dos com três anos e meio de idade, possam estrear nas pistas.

À volta dos bucéfalos há uma grande equipe técnica compostas por treinadores, jóquei, cavalariços e veterinários que tratam os atletas campeões, os cracks, como verdadeiras estrelas do cinema.

Pois, ainda que as apostas sejam o grande motor do esporte, não é só quem aposta que lucra. No turfe, há premiações em dinheiro para os proprietários dos vencedores e dos mais bem colocados, para os jóqueis, e até para os criadores e treinadores.

Em 2010, o cavalo paranaense Glória de Campeão, que venceu a Dubai World Cup, recebeu maior premiação já paga na história do turfe: US$ 10 milhões. Estima-se que o turfe, modalidade mais popular de corrida de cavalos no Brasil e no mundo, movimente mais de US$ 120 bilhões todos os anos pelo mundo inteiro.

História do esporte

As corridas de cavalos existem desde o dia em que o homem conseguiu enfim, domar os hostis bucéfalos. Há registros de competições que vêm desde o Egito e da Grécia Antiga. As corridas, tal como as conhecemos hoje, têm origem inglesa. Eram (e em muitos casos, ainda são) o esporte favorito dos nobres e bem-nascidos britânicos.

No Brasil, o esporte foi impulsionado pelo imperador Dom Pedro II, ele mesmo um entusiasta dos quadrúpedes. Os primeiros clubes de corrida foram criados em meados do século 19. O Jockey Club do Paraná foi um dos pioneiros, fundado em 1873, por um oficial de cavalaria chamado Luís Jacome.

Na primeira metade do século 20, o esporte viveu seus dias de glória. Ficava a frente do futebol na hierarquia das manchetes de jornal e criou seus mitos e heróis como o potro argentino Con Ochos vencedor por una cabeza do primeiro Grande Prêmio Paraná em 1942, montado pelo jóquei Pedro Gusso Filho. Os grandes prêmios arrastavam multidões no Rio de Janeiro, Porto Alegre, São Paulo e Curitiba.

A primeira grande crise se deu em 1960, com a cruzada moralista do presidente Jânio Quadros que por decreto relegou as corridas aos finais de semana e proibiu, entre outras coisas, a entrada de menores de 21 anos.

Apostas no turfe são legais

Por ser um esporte, as postas nas corridas de cavalo não foram atingidas pela extinção do jogo no Brasil em 1955. As corridas são regulamentadas pelo Código Nacional de Corridas, uma instrução normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, atualizada em 2012. Principalmente pela lei 7.291/84, assinada pelo presidente (e turfista notório) João Figueiredo, aquele que um dia disse preferir “o cheiro do cavalo ao do povo”.

Apostar nos cavalinhos é mesmo a grande emoção deste esporte (ainda que uma minoria jogadores possa apresentar compulsão patológica que precisa ser tratada). As apostas turfísticas não dependem em nada de sorte, mas sim de um mapeamento estatístico do desempenho dos equinos em disputa.

É importante conhecer as características de cada animal, as origem, seu desempenho nos trabalhos da semana, seu retrospecto em outros páreos, idade e origem, entre outros detalhes como se o equipamento está confortável em seu corpo ou pode atrapalhar o desempenho.

Estas dicas são distribuídas a todos em um informativo distribuído pelo Jockey Club antes das provas, mas não custa ficar atento as chamadas “informações de cocheira” e ao movimento dos jogadores experientes. No universo do hipódromo há aqueles que sabem diferenciar um “matungo” (um falso vencedor) de um crack apenas pelo jeito de andar.

Países como Inglaterra, Estados Unidos, Dubai e Argentina movimentam milhões com o esporte. No Brasil, o turfe está em fase de retomada como aquele cavalo que vem “trocando orelha” e atropelando por fora num páreo.

Há consenso entre os turfistas que casos de desonestidade nas disputas e dopping de animais, ainda que aconteçam esporadicamente, são coisa do passado do turfe. Passar um dia nas corridas é diversão sofisticada, que além de tudo pode garantir um bom dinheiro para quem souber apostar e torcer. A próxima corrida programada para o hipódromo do Tarumã é o Grande Prêmio Paraná de Turfe, o maior evento do esporte no estado, marcado para o dia 24 de novembro.

Veja abaixo como apostar nos cavalos e um pequeno glossário de expressões do turfe:

Como apostar no turfe:

Vencedor

É a modalidade mais simples, a preferida dos turfistas. Você escolhe um cavalo e ganha se ele chegar em primeiro lugar. O valor apostado é escolhido pelo turfista. Paga o menor valor por cada real apostado, dependendo do rateio.

Placê

É a aposta com maior possibilidade de acerto. Você escolhe um cavalo e ganha se ele chegar em primeiro ou em segundo.

Dupla

Ganha quem acerta os dois primeiros cavalos que chegam na frente, independente da ordem. Essa modalidade tem três formas:

1 – Dupla Simples: aposta-se na ordem de chegada dos dois primeiros cavalos.

2 – Dupla Parcial: o apostador acerta a ordem de chegada dos dois primeiros cavalos. É possível escolher mais de um cavalo para cada colocação, aumentando as chances de ganhar.

3 – Dupla Combinada: consiste em acertar a ordem de chegada dos dois primeiros cavalos. O turfista pode escolher dois ou mais cavalos e ganhará se os cavalos escolhidos chegarem nas duas primeiras colocações independente da ordem.

Dupla Exata

Se aposta na ordem exata de chegada dos dois primeiros cavalos e as regras são as mesmas que valem para as duplas.

Trifeta

Consiste em acertar a ordem de chegada dos três primeiros cavalos. Os valores são escolhidos pelo turfista e as regras são as mesmas que valem para as duplas.

Quadrifeta

Consiste em acertar a ordem de chegada dos quatro primeiros cavalos. Há valores mínimos de apostas e as mesmas regras das duplas. Paga o maior valor para cada real apostado, dependendo do rateio.

Estas são as modalidades apostas mais comuns. Há ainda as modalides de de postas betting, pick ou acumuladas (combinações de vencedores em páreos diferentes).

Glossário de expressões do turfe:

Azarão: o cavalo menos cotado para vencer.

Barbada: o cavalo que não pode perder.

Cânter: desfile troteados dos cavalos antes de uma corrida.

Cocheiras: abrigo para cada animal em um hipódromo.

Cotação: valor que o cavalo está pagando para cada R$ 1 apostado.

Favorito: o cavalo cotado para ganhar.

Fotochart: recurso eletrônico para verificar o vencedor em um páreo de resultado controverso.

Haras: fazenda ou de se criam e reproduzem os cavalos de corrida.

Jóquei: profissional que monta cavalos de corrida.

Páreo: cada uma das corridas de cavalos.

Pule: bilhete de aposta.

Puro-sangue: o cavalo de corrida. Equino com material genétíco de uma única raça.

Reunião (ou programa): um dia de corridas em um determinado hipódromo.

Turfe: o nome do esporte. Turfe vem do inglês “turf”, e pode ser traduzido por relva, o terreno onde ocorreram as primeiras corrida de cavalos.